CAPÍTULO 2: Chegada da polícia (Ann Rule, Pequenos Sacrifícios, 1987) - 010
Willadene não conseguia compreender o que podia ter acontecido. Ela tinha estado com Diana e os filhos naquela tarde. Tomava conta de Danny todos os dias e as meninas também, quando voltavam da escola. Geralmente, jantavam todos juntos em sa casa, mas naquela noite ela e o marido tinham uma reunião. Diana foi buscar as crianças depois de sair do emprego e levou-as para jantar. Tudo estava bem. Como é que Diana e as crianças podiam estar na estrada de Marcola?
Foi então que Diana falou: "Fomos lá visitar o Marco e a Heather..."
Willadene não se lembrava quem aquelas pessoas eram ou se os conhecia. Mas naquele instante, não importava. Pegou no braço da filha e as duas caminharam para a sala de espera maior.
Mãe, não consigo viver sem os meus filhos.
Willadene fez aquilo que vinha a fazer a vida inteira: tentou acalmar as coisas. "Não te preocupes. Elas vão ficar bem. As crianças estão com bons médicos".
(...)
Wess Drederickson entrou apressadamente na sala de espera. Dos dois progenitores, ele era aquele a quem Diana mais se assemelhava fisicamente. (...)
(...)
Quando o policial Rich Charboneau entrou na ala das emergências, Diana olhou para ele e uivou furiosamente: "Até que enfim que apareceram! Está um maníaco lá fora a disparar contra as pessoas".
Era agora 22.48. Tinham passado oito minutos desde o telefonema de Judite a chamar a polícia. Diana relatou-lhe praticamente o mesmo que contou a Judite:
Um estranho pediu-lhe o carro e depois alvejou as crianças quando se recusou a dar-lhe as chaves da viatura. Não... as crianças não estavam acordadas. Lembrava-se agora que estavam todas a dormir. "Não ia deixá-lo levar o meu carro novo", murmurou. "Acabei de o comprar".
Quando Diana foi mencionando características do local do incidente de que se lembrava, ficou claro que ficava fora da área judicial de Springfield. Rich Charboneau tive de contactar o sherife de Lane County. O sargento Robin Rutherford apareceu no hospital para dar conta da ocorrência. À medida que Diana recontava os acontecimentos, ambos os policiais ficavam cada vez mais horrorizados. O perigo podia não ter terminado. A estrada velha de Mohawk tinha apenas alguns quilómetros, muito cheia de curvas, duas faixas, corria paralela à margem do rio na maioria do seu percurso e estava cercada de vastos campos mas, mais perto de Springfield, existiam amontoamentos de casas. Se um maníaco andava por aí solto, armado e aos tiros, tinham de encontrá-lo o quanto antes.
A única pessoa que podia ajudar a indentificar o local exacto do crime, era Diana. O policial perguntou-lhe se podia mostrar-lhe onde tudo aconteceu. Diana respondeu que tinha o braço ferido e lhe haviam colocado apenas um penso. Rutherford pediu a uma das enfermeiras para avaliar o estado das feridas no braço de Diana.
"Lamento, não tenho tempo. Leve-a ao Hospital Sagrado Coração".
Jidite começou a embrulhar o braço novamente, mas não sentia grande confiança na tarefa. A enfermeira Rosa Martin percebeu, parou, olhou de soslaio para a ferida no braço e desenrolou uma gaze. Aplicou muito rapidamente uma menos flexível. Diana perguntou pelos filhos. Rosa respondeu que estavam todos a tratar das crianças, mas era tudo ainda muito grave. "Temos quatro médicos a fazer do melhor pelas crianças". Até aí era tudo verdade. Nem Rosa nem ninguém da equipa médica tinha tido tempo para explicar o quanto o cenário era grave. Ninguém havia ainda dito à família nada, menos ainda que uma das menina entrara já morta. Ainda estavam focados em salvar os outros dois. Até porque, decerto, Diana tinha percebido, quando avistou através da porta, o braço inerte da menina, por entre as cortinas fechadas que ocultavam o seu cadáver.
Decidiram que Diana mais o seu pai, juntamente com o sargento Rutherford iriam ao local do incidente.
Quando Diana e o pai caminharam até a saída do hospital com Rob Rutherford, o sargento não deixou de reparar que Diana estava visivelmente com dor, mas parecia ter uma tremenda força de vontade. Aparentava estar mais calma agora que tinha um propósito a cumprir.
À saída passam pelo Nissan vermelho de Diana. Rich Charboneau está a guardar a viatura. Diana espreita e diz: "Espero que o meu carro esteja bem. Tem algum buraco de bala?"
-"Não sei. Ainda não foi analisado" - respondeu o policial.
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