CAPÍTULO 2: Enquadramento familiar (Ann Rule, Pequenos Sacrifícios, 1987) - 009

 

Wes, o pai de Diana e Willadebe Frederickson, a mãe, viviam a menos de três quilómetros do Hospital. Elizabete Diana era a mais velha dos seus cinco filhos adultos. Havia mudado do Arizona para Springfield apenas à semanas. Willadebe receava hospitais. Nunca nada de bom poderia resultar de um telefonema vindo de um hospital. Desde que os pais de Wes faleceram num terrível acidente rodoviário uma década antes, que Willadebe sentia sempre uma enorme ansiedade quando o telefone toca a meio da noite. Vestiu-se sem reparar o que colocava e juntou-se ao marido. Só quando já estavam a chegar à entrada do hospital é que Wes se lembrou que esquecera de colocar a sua dentadura. O pai de Diana é um homem asceticamente bonito. No início dos 50, a sua aparência física assemelhava-se à de Palmer Cortlandt, o milionário da série de televisão "All My Children".


Era uma figura importante em Springfield. A pessoa número UM no departamento dos correios locais. O chefe de departamento. Pareceu-lhe inapropriado surgir em público sem os seus dentes. Parou o carro, deixou a esposa sair e regressou a casa para apanhar a sua dentadura. 

A mãe de Diana tinha 46 anos mas parecia uma década mais velha. Infortúnios tinham-na vergado, fazendo com que se comportasse nervosamente como se a  preparar-se para o próximo golpe de má sorte. Parecia ser uma mulher que aguardava uma catástrofe a qualquer instante. De cabelo grosso cor castanho avelã, ainda penteado à moda dos anos 50, tal como quando casara com Wes, já apresentava fios cinzentos. Willadene parecia-se como o que outrora fora: uma forte mulher agricultora do Arizona.  Ficou ali sozinha no parque de estacionamento vazio da ala das emergências. Indecisa sobre se devia atravessar as portas duplas, ou se a passagem era somente para as ambulâncias. Decidiu que havia de encontrar outra porta. Avistou uma e foi dar a um corredor. Diana estava em frente a uma janela na sala das enfermeiras. 

"O que aconteceu?" - desengasgou.

Diana olhava a mãe, aparentemente incapaz de responder-lhe.

"As crianças foram alvejadas" - responde Judite. 

"Alvejadas?!" - retorquiu incrédula. "Alvejadas?!"

"Sim. No meio da estrada". - acrescentou suavemente Judite.

"Onde?"

"Marcola"

"Marcola?"




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