CAPÍTULO 2: A história relatada (Ann Rule, Pequenos Sacrifícios, 1987) - 008
CAPÍTULO 2: Continuação (01)
«Pensei poder tratar-se de uma disputa doméstica» - recorda Judite. "Se um homem tinha sido louco e cruel o suficiente para alvejar três crianças, podia tê-la seguido até as emergências e começar a disparar em toda a gente. Queria chamar a polícia o quanto antes, estava assustada" - relembraria depois.
"Quero telefonar aos meus pais" - diz a mulher loura, agora identificada como Diana Downs. "Preciso de lhes ligar" - insiste.
Judite acenou afirmativamente enquanto falava ao telefone. Cobre o receptor com a mão e pergunta a Diana: "Pode dizer-me o que aconteceu novamente? Para contar à polícia?"
"Alguém alvejou os meus filhos..."
Judite foi repetindo a informação fornecida por Diana. Esta não se recordava onde o massacre tinha ocorrido, mas achou que talvez pudesse dar com o local. Mencionou que talvez pudesse ter sido na estrada de Mohawk ou em Marcola. Existindo dois locais com o primeiro nome e uma intersecção a noroeste de Springfield com o segundo, ficava difícil saber exatamente em que área decorreu os disparos.
(...)
Debaixo da forte luz, Judite percebeu que Diana também tinha sofrido ferimentos. Do cotovelo até ao pulso, o seu braço esquerdo estava enrolado numa toalha de praia, oculta debaixo da camisa azul que trazia vestida por cima da t-shirt.
Removendo a toalha, Judite encontrou um ferimento superficial oval, de má aparência, situado entre o cotovelo e o pulso. Existiam também duas outras pequenas feridas. Judite não era enfermeira, mas era a única que se encontrava disponível. Colocou betadine nas três feridas, para as desinfectar, limpando as partículas negras em volta da primeira ferida e colocou ligaduras em torno do braço. Não eram ferimentos de vida ou morte, embora parecessem dolorosos.
"O que aconteceu? - pergunta Judite. "Onde estava quando alvejaram as crianças?"
"Fomos a Marcola visitar um amigo. Regressávamos pela velha estrada Mohawk. As crianças estavam a rir e a conversar. Eu ri de algo que o Danny disse e falava com a Christie. Este homem, parado no meio da estrada... Pareceu-me que precisava de ajuda. Parei o carro e saí. Ele queria as chaves do carro. Então espreitou pela janela e disparou nos meus filhos. É horrível estar a rir num minuto, e depois acontece-te algo assim".
Não haviam palavras de conforto para serem ditas. Judite tocou no braço bom de Diana e disse-lhe que podia fazer o telefonema para seus pais. Diana ligou um número e esperou que alguém atendesse o telefone.
"Ele disparou nos meus filhos. E em mim também".
Desligou o telefone e virou-se para Judite. "Eles estão a caminho".
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